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Clarival do Prado Valladares

DEPOIMENTO DE CLARIVAL DO PRADO VALADARES, A PROPÓSITO DA INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE SUA COLEÇÃO NO DIA 06 DE DEZEMBRO DE 1972, NA GALERIA DO IBEU, NO RIO DE JANEIRO.

Jacques van de Beuque é um colecionador esclarecido, pesquisador de arte genuina, dentro de uma conduta que difere do simples interessado de arte exótica. Procura selecionar a imensa matéria do folclore sem submetê-la aos limites pouco conseqüentes do pitoresco. Eleva-a, convenientemente, de uma origem regional ao plano de entendimento do universal, através da captação e do relevo que sabe destacar no atributo estético inerente. Sob este critério Jacques van de Beuque não se limita a determinadas regiões, gêneros, grupos e até autores. Vem adquirindo, anos seguidos, peças de ex-votos das devoções sertanejas, de Goiás, do São Francisco e do Nordeste, nas características de melhor artesania e representatividade.

Ainda chegou a tempo de obter algumas das rareadas carrancas das barcas do Rio São Francisco, num conjunto de exemplares de interesse de estudo; juntou, em várias excursões, valiosas peças da cerâmica popular, desde a indígena Carajá da Ilha do Bananal a de Vitalino de Caruarú. Desconheço nome de grupo ou de autor consagrado à arte popular que esteja ausente de seu acervo: desde Nôzinho, o miniaturista do Maranhão, Nhô Cabôco, o das “rachas” e barcas de Pernambuco, GTO o escultor-entalhador de Minas, Louco, o das Ceias, às figuras de Zezinho, Lidia e Severino ceramistas de Tracunhaém, às moringas de Zé-Rodrigues e de tantos outros, antes de se mencionar as incontáveis peças da artesania e da arte anônimas que juntas formam o mundo enorme da genuinidade brasileira. Seria errado pensar-se que a finalidade desta mostra, ou deste prefácio, pudesse resultar em enaltecimento nacionalista, através do belo surpreendido no folclórico. O propósito é outro, esta iniciativa ajuda ao reconhecimento da autenticidade que existe nas manifestações de nossa arte popular. O resultado é uma maior estima e atenção pelas coisas da vida espiritual de nosso povo. Desse modo deixam de ser curiosidades e passam a ser vistas como valores da conduta humana, ainda hoje refletidos em algumas áreas.

Pietro Maria Bardi

PIETRO MARIA BARDI, VIUVO DE LINA BO BARDI, ENTÃO DIRETOR DO MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO, NO CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO "A ARTE DO POVO BRASILEIRO", REALIZADA NO MASP, EM 1986.

 O MASP está feliz em acolher a estupenda coleção J.V. de Beuque. Este museu tem sido pioneiro na valorização e exposição da cultura popular do país e, ao lado de obras-primas como os nossos Picasso, Goya, Cézanne ou Van Gogh, temos mostrado exemplares da criatividade popular. A arte é uma só e o que importa é expressar as questões do ser humano. Foi esta posição que nos levou, em plena década de 1940, a comprar uma exposição inteira do ingênuo José Antônio da Silva que, hoje, faz parte do acervo do MASP. Ou de organizar a grande exposição "A Mão do Povo", até hoje na memória dos paulistanos. É louvável a dedicação de Beuque em organizar, durante 30 anos, esta coleção da nossa arte popular.

José Saramago

EM ENTREVISTA DADA À GLOBONEWS, PELO ESCRITOR JOSÉ SARAMAGO, PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA, EM 2000.

 “Como é que um homem, de outra cultura, um dia desembarca aqui, percorre o país, quase ponto por ponto, descobrindo, encontrando, recolhendo, organizando e depois, instala ali, aquelas figuras que são da criatividade popular, tudo com uma expressão tão sólida, tão forte. É tudo realmente um assombro! O que se reuniu na Casa do Pontal é inimaginável! Esse homem que fez essa coleção não era com certeza um turista, era um viajante, aquele que viaja para querer saber, para querer ver. Ele foi capaz de num ato de amor recolher e manter tudo aquilo exposto...”

 

Lélia Coelho Frota

LÉLIA COELHO FROTA, NO FILME DE ZELITO VIANA SOBRE COLECIONADORES, NA SÉRIE ARTE PARA TODOS, CONCLUÍDO EM 2004. 

Jacques Van de Beuque, eu acho, fez uma coisa extraordinária porque ele reuniu durante décadas arte popular brasileira com uma paixão incrível e com o conhecimento pessoal dos artistas, com o prazer do encontro com os artistas. Não era só um colecionador frio.